Biblioteca do mosteiro

 

 

 

 

 

 

por Camilla Pitiá

Próximo ao barulho do Largo de São Bento, em meio aos carros e aos transeuntes, avistamos um local habitado pelo silêncio e pela sensibilidade. Fundado em 1582, o espaço mantém as tendências que refletiram suas características, com notável mérito arquitetônico e histórico. Com um portal de madeira trabalhada tem-se a entrada para aquele que é considerado um agradável espaço para estudo e reflexão. A biblioteca localizada no Mosteiro de São Bento possui um grande acervo e é um importante lugar para a manutenção da cultura e da história do país. Em meio às dificuldades, principalmente de conservação, os monges beneditinos vêm realizando um permanente trabalho para a manutenção da biblioteca, que também conta com o apoio de voluntários e doadores.

A biblioteca foi criada no mesmo período do mosteiro e desde o início possui um acervo bibliográfico trazido pelos monges ao chegarem no país. Conservado ao longo de mais de quatro séculos, o acervo é considerado de grande importância pela raridade e pelos diversos documentos históricos. É também uma das únicas bibliotecas beneditinas em que é permitido o acesso do público.

Apesar da grande quantidade de volumes, a biblioteca não possui um inventário confirmando o tamanho do seu acervo. De acordo com a bibliotecária Consuelo Falcão, responsável pelo espaço há seis anos, são mais de 300 mil obras, dentre elas livros, documentos históricos e obras raras que são pouco vistas em outros lugares. “Tudo que temos é uma idéia, uma média”, completa.

No entanto, o acesso aos livros raros não é permitido. Com mais de 50 mil volumes, estes livros se encontram reclusos, sendo permitida apenas a entrada autorizada de pesquisadores. Para este acervo, foi criado o Centro de Documentação e Pesquisa do Livro Raro. Lá se pode encontrar volumes do período do descobrimento do Brasil, como por exemplo o Dicionário Blutao, que é um dicionário da língua portuguesa do ano de 1600. O livro, que possui sete volumes, também pode ser visto na biblioteca da Universidade Federal da Bahia, porém em precário estado de conservação.

Conhecida pela grande quantidade de livros antigos, dificilmente localizados em outro lugar, Consuelo afirma que muitos pesquisadores vão à biblioteca na certeza de que o local terá o que procuram. “E muitas das vezes é isso que acontece. Geralmente as pessoas já sabem que se não encontraram em outro lugar, existe uma grande chance de achar no São Bento”, diz.

Por ser uma biblioteca monástica, as obras referem-se, principalmente, a Teologia, Filosofia e História, por isso, a grande maioria dos pesquisadores são de pessoas que estão fazendo doutorado, mestrado ou algum tipo de especialização nessas áreas. Segundo a bibliotecária, o local também é utilizado por muitos turistas que possuem a curiosidade de “conhecer uma biblioteca beneditina”. Esse é o caso da mineira Denise Regina Sales, tradutora e mestranda em Literatura Russa, que com a viagem a Salvador, resolveu fazer uma visita ao mosteiro para ver alguns livros e desfrutar do ambiente calmo. “Aproveitei para usufruir a diversidade de livros das variadas línguas que aqui se encontra”, afirma.

A biblioteca também é utilizada por estudantes de graduação, principalmente do Instituto Teológico São Bento (ITESB). É o caso da senhora Diva Villas-Boas, estudante de Teologia, que afirma estar diariamente em busca de conhecimento no acervo raro. “O diversificado acervo, no que diz respeito à ordem teológica, é muito importante. São livros que não se encontram em lugar nenhum”, completa.

Restauração
Por terem conhecimento da importância do acervo, é que os monges beneditinos criaram, em parceria com a empresa Odebrecht, o Laboratório de Conservação e Restauração de Livros e Documentos de São Bento, para que seja feito o tratamento dos livros. Assim, os livros disponibilizados pela biblioteca estão passando por um longo processo de restauração e preservação das obras. O laboratório dispõe de modernos equipamentos, que permitem o desenvolvimento adequado de preservação do papel.

Para a bibliotecária, um outro setor importante é o de encadernação, que também ajuda na conservação dos livros. Segundo ela: “Quando um livro está meio estragado, com as folhas soltando, encaminhamos para a encadernação. Evitando que o acervo seja deteriorado”. Outra preocupação existente diz respeito à digitalização do acervo. De acordo com Consuelo, é muito importante que este trabalho seja feito, principalmente “hoje, em que tudo é automatizado”. O trabalho que já está sendo realizado não terá resultados próximos, pela dificuldade existente em relação ao tamanho do acervo. No entanto, através do site da biblioteca, já é possível pesquisar sobre os livros existentes e sua disponibilidade.

Para realização desses trabalhos, a biblioteca do Mosteiro de São Bento conta com a ajuda de voluntários, trabalhando na restauração e preservação dos livros. Segundo a bibliotecária, tem sido muito importante para o mosteiro o trabalho voluntário, “principalmente no laboratório de restauração, que necessita de um trabalho cuidadoso e especializado”.

Para garantir uma melhor conservação dos livros, a biblioteca os disponibiliza para pesquisa apenas no local. A Biblioteca do Mosteiro de São Bento está localizada na Avenida Sete de Setembro, no Largo de São Bento e está aberta de segunda à sexta, das 8h30 às 11h30 e das 13h às 17h.
(junho de 2004)

 

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